Em 2021, Kethelyn Naiara precisou dar um tempo nos treinos e competições. A atleta do salto triplo e salto em distância vivia o luto pelo falecimento da mãe. Tudo parecia escuro. A força para seguir em frente se esvaía. Até que Kethelyn voltou a ver a luz. Um ano após a perda, ela descobriu que estava grávida.
"Eu vivia o pior momento da minha vida, e aí engravidei e tudo mudou. Era um misto de sensações: conviver com a perda e com o nascimento da minha filha. Não foi uma gravidez planejada, mas foi desejada", diz Kethelyn.
Bolsista do Programa Talento Esportivo desde 2024, Kethelyn se afastou das pistas no quarto mês de gestação. O corpo começava a emitir sinais. "Não foi uma gestação fácil. Sofri um pouco. Precisei parar para me cuidar e cuidar da bebê". Com apenas três meses de Zuria, Kethelyn decidiu que era hora de voltar. "Perdi massa muscular, estava distante da minha melhor forma. Foi preciso muita paciência para me recondicionar."
A Kethelyn que pisou na pista de atletismo do Ginásio Ponte Grande, em Guarulhos, para o primeiro treino pós-parto já não saltava só pelo ouro. Ela competia por algo maior. Cada metro superado significava a construção de um legado para a primogênita. "Hoje sou uma mulher e uma atleta melhor do que eu era antes da Zuria. Quero que ela tenha muito orgulho do que a mãe dela faz."
Zuria é o amuleto de Kethelyn nos treinos e competições
Aos 2 anos, Zuria aos poucos vai tateando o habitat dos pais. Ela é presença constante na rotina de treinos e competições de Kethelyn e do pai, José Ferreira, atleta do decatlo e que inclusive esteve nos Jogos Olímpicos de Paris.
"Sempre que podemos, levamos a Zuri para o trabalho. Ela se diverte na pista, corre e interage com outros atletas. É como se fosse o parquinho de diversões dela", diz Kethelyn.
Com a energia de quem vive o esplendor da carreira e a experiência de ter sido treinada por Nélio Moura, técnico da Maurren Maggi na conquista da medalha de ouro no salto em distância dos Jogos de Pequim, em 2008, Kethelyn olha com carinho para o ciclo olímpico de Los Angeles 2030. A atleta espera emplacar um casal na maior competição do esporte mundial. "A partir de 2026 a disputa por pontos para o índice olímpico começa de fato. Nas minhas provas tenho mais concorrência que o meu marido, que geralmente está entre os melhores do país, mas vamos trabalhar para conseguir a vaga."